Patologia vegetal e entomologia agrícola. As caldas cúpricas com enxofre . CURATIVO SIMULTÂNEO DO MÍLDIO E DO OÍDIO
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Título
Patologia vegetal e entomologia agrícola. As caldas cúpricas com enxofre . CURATIVO SIMULTÂNEO DO MÍLDIO E DO OÍDIO
Criador
Agrónomo Rodrigues de Maraes
Fonte
O Jornal de Cantanhede, n.º 695, pág. 3, col. 3,4
Data
11-10-1902
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
Desde o princípio da luta contra o míldio, tem a viticultura manifestado a aspiração, bem justa, de combater, com uma só fórmula e ao mesmo tempo esta doença, e o oídio. Ocorreu primeiro a ideia das fórmulas pulverulentas, vieram os enxofres cúpricos, ou os compostos de enxofre e sulfato de cobre em pó, mas estes pós eram caros e o sulfato de cobre não tinha a aderência precisa.
Pensou-se depois em juntar o enxofre às caldas cúpricas, mas apareceu a dificuldade de fazer esta juncão: o enxofre, lançado na calda feita, não se molha, sobrenada, e em vista de tal dificuldade a ideia quase foi abandonada. Agora, porém, parece felizmente que a dificuldade está vencida: o Sr. Guilon, director da estação vitícola de Cognac, diz que, procurando misturar o enxofre com as caldas cúpricas, com o fim de evitar as grandes despesas de mão de dobra, que se produzem atacando separadamente o oídio e o míldio, reconheceu que lançando enxofre (sublimado ou moído) sobre uma calda feita, ele fica à superfície, não se molha; mas que se pode fazê-lo molhar nas diferentes caldas, operando da forma seguinte:
Calda bordelesa — Esta calda para levar enxofre prepara-se como de costume, mas a cal deve ser antecipadamente amassada intimamente com o enxofre e, só depois disto, lançada na solução do sulfato de cobre; 2 quilos de cal podem bem misturar-se com 10 quilos ou mais de enxofre (bastam 3 quilos). A calda bordelesa com enxofre não sofre modificação na sua aderência; mas é um pouco menos aderente, quando se lhe junta 0.35 p. c. de colofónia ou 1 p. c. de melaço. Uma adição de 3 p. c. de gelatina pouca influência tem. Calda borgonhesa — Na preparação desta calda procede-se analogamente com a bordelesa; mistura-se primeiro o enxofre com o carbonato de soda, mas o enxofre não é inteiramente molhado; para o ser junta-se à calda Ogr,25 de colofónia. A presença do enxofre nem altera a aderência desta calda, nem a impede de se alterar com o tempo.
Verdete — Este sal bem seco e moído incorpora-se perfeitamente com o enxofre; juntam-se em pequenas porções agitando constantemente a água necessária. O enxofre não modifica aderência do verdete.
Caldas diversas — A calda de carbonato de potassa não é modificada pelo enxofre, mas este não é molhado completamente. O mesmo sucede com a água celeste. O enxofre pode misturar-se com o sabão tendo os necessários e referidos cuidados. Resulta, para o Sr. Guillon dos seus estudos, que o enxofre simplesmente se mistura e não combina com o cobre, dada a condição de fazer as aplicações imediatamente à preparação das caldas. As experiências que ele fez na Charentes, e que podem ser repetidas em qualquer vinhedo, demonstram a eficácia das caldas com enxofre para combater ao mesmo tempo o oídio e míldio, quando bem preparadas e bem aplicadas. Como se vê uma das conclusões a que chega o Sr. Guillon afasta o receio que tinha havido de se combinar o enxofre com o cobre e dar o sulfureto insolúvel; o enxofre não se combina com o cobre, não lhe modifica a acção sobre o míldio, quando a aplicação das caldas se faz imediatamente à preparação. É uma boa nova que nos apressamos a dar aos leitores desta e especialmente a alguns Srs. assinantes que sobre este assunto nos têm consultado. Mas há melhor do que isto: o Sr. Hugonnenc diz que nenhum perigo resulta, antes vantagem, da combinação lenta do enxofre com o cobre; neste caso se formará em polisulfureto de cobre, que, como todos os polisulfuretos é pouco estável, desdobra-se facilmente em enxofre e em sulfureto de cobre muito oxidável. Aplicada a calda com enxofre, cada gota torna-se uma fonte de produtos anti criptogâmicos: 1.º de enxofre nascente, apresentando portanto o máximo de actividade e de oxidabilidade, enxofre precipitado num estado de divisão levada ao infinito; 2.° de sulfureto de cobre, absolutamente insolúvel na água, e talvez sem acção anti criptogâmica, mas que precisamente por causa da sua instabilidade, da facilidade com que se oxida em presença do oxigénio do ar, e sobretudo do que provém da actividade chlophylliana, vai transformar-se em sulfato de cobre eminentemente activo. Daqui produção de enxofre contra o oídio, produção lenta e constante de sulfato de cobre, tendo por fonte um corpo absolutamente insolúvel, mas duma aderência surpreendente... de sulfato de cobre, que se forma lentamente... difundindo-se nos líquidos em maior quantidade do que o hidrato ou hidrocarbonato de cobre das caldas, que tem necessidade de traços de amoníaco para se difundir.
Em resumo: embora se forme o sulfureto de cobre e este seja imediatamente solúvel na água, é todavia facilmente oxidável, produzindo enxofre e sulfato de cobre, isto é, os antídotos contra o oídio e o míldio, e parece que a teoria se confirma com os resultados na prática, que é o que mais importa. Agrónomo. Rodrigues de Maraes.
(Da Gazeta das Aldeias)
Pensou-se depois em juntar o enxofre às caldas cúpricas, mas apareceu a dificuldade de fazer esta juncão: o enxofre, lançado na calda feita, não se molha, sobrenada, e em vista de tal dificuldade a ideia quase foi abandonada. Agora, porém, parece felizmente que a dificuldade está vencida: o Sr. Guilon, director da estação vitícola de Cognac, diz que, procurando misturar o enxofre com as caldas cúpricas, com o fim de evitar as grandes despesas de mão de dobra, que se produzem atacando separadamente o oídio e o míldio, reconheceu que lançando enxofre (sublimado ou moído) sobre uma calda feita, ele fica à superfície, não se molha; mas que se pode fazê-lo molhar nas diferentes caldas, operando da forma seguinte:
Calda bordelesa — Esta calda para levar enxofre prepara-se como de costume, mas a cal deve ser antecipadamente amassada intimamente com o enxofre e, só depois disto, lançada na solução do sulfato de cobre; 2 quilos de cal podem bem misturar-se com 10 quilos ou mais de enxofre (bastam 3 quilos). A calda bordelesa com enxofre não sofre modificação na sua aderência; mas é um pouco menos aderente, quando se lhe junta 0.35 p. c. de colofónia ou 1 p. c. de melaço. Uma adição de 3 p. c. de gelatina pouca influência tem. Calda borgonhesa — Na preparação desta calda procede-se analogamente com a bordelesa; mistura-se primeiro o enxofre com o carbonato de soda, mas o enxofre não é inteiramente molhado; para o ser junta-se à calda Ogr,25 de colofónia. A presença do enxofre nem altera a aderência desta calda, nem a impede de se alterar com o tempo.
Verdete — Este sal bem seco e moído incorpora-se perfeitamente com o enxofre; juntam-se em pequenas porções agitando constantemente a água necessária. O enxofre não modifica aderência do verdete.
Caldas diversas — A calda de carbonato de potassa não é modificada pelo enxofre, mas este não é molhado completamente. O mesmo sucede com a água celeste. O enxofre pode misturar-se com o sabão tendo os necessários e referidos cuidados. Resulta, para o Sr. Guillon dos seus estudos, que o enxofre simplesmente se mistura e não combina com o cobre, dada a condição de fazer as aplicações imediatamente à preparação das caldas. As experiências que ele fez na Charentes, e que podem ser repetidas em qualquer vinhedo, demonstram a eficácia das caldas com enxofre para combater ao mesmo tempo o oídio e míldio, quando bem preparadas e bem aplicadas. Como se vê uma das conclusões a que chega o Sr. Guillon afasta o receio que tinha havido de se combinar o enxofre com o cobre e dar o sulfureto insolúvel; o enxofre não se combina com o cobre, não lhe modifica a acção sobre o míldio, quando a aplicação das caldas se faz imediatamente à preparação. É uma boa nova que nos apressamos a dar aos leitores desta e especialmente a alguns Srs. assinantes que sobre este assunto nos têm consultado. Mas há melhor do que isto: o Sr. Hugonnenc diz que nenhum perigo resulta, antes vantagem, da combinação lenta do enxofre com o cobre; neste caso se formará em polisulfureto de cobre, que, como todos os polisulfuretos é pouco estável, desdobra-se facilmente em enxofre e em sulfureto de cobre muito oxidável. Aplicada a calda com enxofre, cada gota torna-se uma fonte de produtos anti criptogâmicos: 1.º de enxofre nascente, apresentando portanto o máximo de actividade e de oxidabilidade, enxofre precipitado num estado de divisão levada ao infinito; 2.° de sulfureto de cobre, absolutamente insolúvel na água, e talvez sem acção anti criptogâmica, mas que precisamente por causa da sua instabilidade, da facilidade com que se oxida em presença do oxigénio do ar, e sobretudo do que provém da actividade chlophylliana, vai transformar-se em sulfato de cobre eminentemente activo. Daqui produção de enxofre contra o oídio, produção lenta e constante de sulfato de cobre, tendo por fonte um corpo absolutamente insolúvel, mas duma aderência surpreendente... de sulfato de cobre, que se forma lentamente... difundindo-se nos líquidos em maior quantidade do que o hidrato ou hidrocarbonato de cobre das caldas, que tem necessidade de traços de amoníaco para se difundir.
Em resumo: embora se forme o sulfureto de cobre e este seja imediatamente solúvel na água, é todavia facilmente oxidável, produzindo enxofre e sulfato de cobre, isto é, os antídotos contra o oídio e o míldio, e parece que a teoria se confirma com os resultados na prática, que é o que mais importa. Agrónomo. Rodrigues de Maraes.
(Da Gazeta das Aldeias)
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Citação
Agrónomo Rodrigues de Maraes, “Patologia vegetal e entomologia agrícola. As caldas cúpricas com enxofre . CURATIVO SIMULTÂNEO DO MÍLDIO E DO OÍDIO
”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 695, pág. 3, col. 3,4 , 11-10-1902. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/512.
”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 695, pág. 3, col. 3,4 , 11-10-1902. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/512.