SECÇÃO AGRÍCOLA
O carboneto de cálcio contra o oídio
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Título
SECÇÃO AGRÍCOLA
O carboneto de cálcio contra o oídio
O carboneto de cálcio contra o oídio
Criador
S/autor
Fonte
Jornal de Penafiel, 14º Ano, nº 86, p. 2.
Data
28-08-1900
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
O ano passado vários jornais agrícolas estrangeiros falaram com grande entusiasmo de experiências demonstrativas da eficácia do carboneto de cálcio no tratamento do oídio.
Já por várias vezes temos manifestado que, apesar de animados de espírito progressivo desejamos proceder sempre com máxima prudência na recomendação de inovações cujo valor não conheçamos nem esteja bem estabelecido; porque, se há vantagem sempre em fazer «experiências» para atingir a verdade, é bem certo também que, se o cultivador, movido por esperanças que lhes incutam, ultrapassar as linha prudente dos ensaios, para adotar desde logo amplamente um processo novo e ainda não consagrado, daí lhe pode resultar grave prejuízo.
Foi por isso que aguardámos mais esclarecimentos a respeito da aplicação do carboneto de cálcio ao tratamento do oídio. […]
O carboneto de cálcio reduzido a pó muito fino foi aplicado a videiras fortemente atacadas pelo oídio. Um jornaleiro servindo-se de um dos pulverizadores usuais, irrigava previamente os cachos atacados, e imediatamente depois outro jornaleiro projetava por meio de um sulfurador, o pó do carboneto sobre os cachos anteriormente banhados.
Como já na «Gazeta das Aldeias» foi explicado, o carboneto de cálcio em contacto com a água produz um gás – o gás aciteno. Foi a produção deste gás o que se deu sobre as videiras.
Segundo o sr. Hachet, o efeito deste tratamento foi magnífico. Afirma ele que os cachos foram rapidamente desembaraçados da criptógama e, apesar dos fortes calores do fim de julho, nem folhas nem cachos foram danificados – o que, sinceramente o dizemos, nos maravilha e muito desejamos verificar com os nossos próprios olhos, em experiências futuras, como S. Tomé.
Quási a seguir foram realizadas experiências comparativas como enxofre; desses tratamentos tiraram-se as seguintes conclusões:
I – Que o enxofre e o carboneto de cálcio não podem ser empregadas indiferentemente, nos diversos estados do ataque do parasita. Quando uma videira está só em começo invadida, com o enxofre pode ter-se a certeza, se não sobrevem a chuva, de ter protegido por um mês as plantas, contra o oídio; e nisto estamos nós em completo acordado.
Mas a eficácia do enxofre, que está demonstrada no mal recente, diminui quando o ataque do oídio data já de algum tempo.
II – O carboneto de cálcio não destrói o oídio senão em contacto direto com ele, precisa ainda, para que a sua ação seja boa, que os cachos sejam banhados perfeitamente antes de aplicar o pó do carboneto de cálcio.
III – O carboneto de cálcio só deve usar-se para combater um ataque de oídio intenso e já desde algum tempo desenvolvido.
Estes ensaios e estas observações são sem dúvida muito interessantes, e não devem já agora pôr-se de parte. Muito ao contrário nos parece que há boa razão para fazer experiências, porque a confirmar-se a parte essencial dos estudos do sr. Huchet, isto é, que a efervescência produzida pelo carboneto de cálcio na videira molhada anula a criptógama, sem danificar a planta doente teremos menos um processo que convirá combinar com os tratamentos e para o caso em que estes, evidentemente mais simples, não tenham suficiente eficácia.
A questão económica não foi posta pelo sr. Huchet, o que deploramos. Importa conhecer a quantidade de carboneto a empregar, e avaliar por aí o preço dos tratamentos que se nos afigura hão-de ficar bem mais caros do que os de enxofre.
(«Da Gazeta das Aldeias»)
Já por várias vezes temos manifestado que, apesar de animados de espírito progressivo desejamos proceder sempre com máxima prudência na recomendação de inovações cujo valor não conheçamos nem esteja bem estabelecido; porque, se há vantagem sempre em fazer «experiências» para atingir a verdade, é bem certo também que, se o cultivador, movido por esperanças que lhes incutam, ultrapassar as linha prudente dos ensaios, para adotar desde logo amplamente um processo novo e ainda não consagrado, daí lhe pode resultar grave prejuízo.
Foi por isso que aguardámos mais esclarecimentos a respeito da aplicação do carboneto de cálcio ao tratamento do oídio. […]
O carboneto de cálcio reduzido a pó muito fino foi aplicado a videiras fortemente atacadas pelo oídio. Um jornaleiro servindo-se de um dos pulverizadores usuais, irrigava previamente os cachos atacados, e imediatamente depois outro jornaleiro projetava por meio de um sulfurador, o pó do carboneto sobre os cachos anteriormente banhados.
Como já na «Gazeta das Aldeias» foi explicado, o carboneto de cálcio em contacto com a água produz um gás – o gás aciteno. Foi a produção deste gás o que se deu sobre as videiras.
Segundo o sr. Hachet, o efeito deste tratamento foi magnífico. Afirma ele que os cachos foram rapidamente desembaraçados da criptógama e, apesar dos fortes calores do fim de julho, nem folhas nem cachos foram danificados – o que, sinceramente o dizemos, nos maravilha e muito desejamos verificar com os nossos próprios olhos, em experiências futuras, como S. Tomé.
Quási a seguir foram realizadas experiências comparativas como enxofre; desses tratamentos tiraram-se as seguintes conclusões:
I – Que o enxofre e o carboneto de cálcio não podem ser empregadas indiferentemente, nos diversos estados do ataque do parasita. Quando uma videira está só em começo invadida, com o enxofre pode ter-se a certeza, se não sobrevem a chuva, de ter protegido por um mês as plantas, contra o oídio; e nisto estamos nós em completo acordado.
Mas a eficácia do enxofre, que está demonstrada no mal recente, diminui quando o ataque do oídio data já de algum tempo.
II – O carboneto de cálcio não destrói o oídio senão em contacto direto com ele, precisa ainda, para que a sua ação seja boa, que os cachos sejam banhados perfeitamente antes de aplicar o pó do carboneto de cálcio.
III – O carboneto de cálcio só deve usar-se para combater um ataque de oídio intenso e já desde algum tempo desenvolvido.
Estes ensaios e estas observações são sem dúvida muito interessantes, e não devem já agora pôr-se de parte. Muito ao contrário nos parece que há boa razão para fazer experiências, porque a confirmar-se a parte essencial dos estudos do sr. Huchet, isto é, que a efervescência produzida pelo carboneto de cálcio na videira molhada anula a criptógama, sem danificar a planta doente teremos menos um processo que convirá combinar com os tratamentos e para o caso em que estes, evidentemente mais simples, não tenham suficiente eficácia.
A questão económica não foi posta pelo sr. Huchet, o que deploramos. Importa conhecer a quantidade de carboneto a empregar, e avaliar por aí o preço dos tratamentos que se nos afigura hão-de ficar bem mais caros do que os de enxofre.
(«Da Gazeta das Aldeias»)
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Citação
S/autor, “SECÇÃO AGRÍCOLA
O carboneto de cálcio contra o oídio
”. In Jornal de Penafiel, 14º Ano, nº 86, p. 2., 28-08-1900. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/560.
O carboneto de cálcio contra o oídio
”. In Jornal de Penafiel, 14º Ano, nº 86, p. 2., 28-08-1900. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/560.