Pragas nos Periódicos

Relatório da comissão para a moléstia das vinhas

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Título

Relatório da comissão para a moléstia das vinhas

Criador

s/autor

Fonte

O Fayalense, nº 289, pp. 289-290.

Data

09-12-1857

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

Text Item Type Metadata

Text

Acta da sessão de 11 de Novembro de 1857

Aos onze dias do mês de novembro do ano de mil oitocentos e cinquenta e sete, nesta cidade da Horta, e cada da residência de José Curry da Câmara Cabral, se achou reunida a comissão. E logo por um dos membros da mesma o dr. Tomás de Bettencourt foi apresentado o relatório de trabalhos, a que se havia dado a comissão e cuja coordenação e redação lhe havia sido cometida pela mesma comissão, o qual relatório, fruto do seu zelo e inteligência, foi lido, meditado, e depois de algumas leves observações e explicações foi plenamente aprovado tal qual apresentado foi e é o seguinte:

Relatório

A comissão nomeada pela ilustríssima camara municipal deste concelho da Horta, para analisar a moléstia, que atualmente grassa nas vinhas das ilhas do Pico e Faial, de um modo verdadeiramente epidémico, com o fim de ficar registada nos anais da mesma câmara uma tal notícia, para o que convenha de futuro, dado o caso de nova invasão da mesma moléstia […] .

A moléstia das vinhas oidium tuckery invadiu m 1830 nos Estados Unidos da América algumas variedades de uvas; na França apareceu no ano de 1834 […] fazer-se que em todas as freguesias da ilha existia mais ou menos o oidium, xxx que em geral como que privilegiadas as vinhas do litoral; e mesmo na intensidade da moléstia, que foi em 1556, foram as mencionadas vinhas muito menos afetadas, e era onde se encontrava uva em bom estado; terá neste facto alguma influência a salsugem do mar?

Tem sido por todos presenciado que quanto mais afastadas estão as vinhas do litoral, em tanto piores circunstâncias se acham não só as videiras mas também o fruto, e que muitas cepas se têm estiolado e perdido nas vinhas denominadas de cima, durante que mui poucas nas vinhas beira mar; não tem porém sucedido o mesmo noutros países vinícolas.

No presente ano de 1857 o desenvolvimento do parasita foi muito menor do que no ano passado, concorrendo talvez para isso a baixa temperatura, que reinou em maio, junho e julho; infelizmente porém a colheita foi muito insignificante, tanto no Pico como no Faial, devido isto a que as vicissitudes atmosféricas destruíram a maior parte da uva que nascera.

São estes pois os esclarecimentos que podemos colher da ilustríssima câmara de S. Roque e de alguns amigos, a quem particularmente nos dirigimos, aos quais todos cordialmente agradecemos e com especialidade ao nosso antigo e bom amigo o ilustríssimo e reverendíssimo vigário de S. Mateus; […] debaixo do ponto de vista botânico, e demonstrou sobre todas as vinhas atacadas a presença de um cogumelo microscópico pertencendo ao género oidium, batizou-o então com o nome de Oidium-Tuckery, tomando assim o nome do primeiro jardineiro, que lhe fez ver esta nova alteração da vinha. […]

Para dar-mos, como nos cumpre, uma ideia posto que resumida deste flagelo, que enormíssimas perdas tem causado nos países vinícolas e máxime naqueles, cujo terreno se não presta com facilidade a qualquer outra cultura, tomemos como ponto de partida, o desenvolvimento do espórulo, que é órgão reprodutor vegetal parasita. […]

Todas as partes da vinha podem ser invadidas pelo parasita oidium, contudo encontra-se especialmente nas folhas, ramos, flores e fruto, escapando em geral as cepas e os troncos.

Os primeiros sinais da doença encontram-se de ordinário sobre os novos ramos anuais; algumas vezes porém encontram-se folhas e cachos, que são primeiramente atacados: isto porém não é trivial.

Os primeiros sinais da doença são pequenas manchas de um pó branco pouco aderente, o qual toma pouco dias depois uma cor acinzentada; estas manchas são formadas por uma rede de filamentos, que constituem micélio, do qual partem as hastes frutíferas […] o parasita encontra-se em ambas as fases das folhas, quando as ataca mui novas, elas se encrespam, incham regularmente e morrem, mas se têm já o devido desenvolvimento, resistem então mui bem, persistindo até à maturação da uva, com manchas escuras, que é a parte mortificada, e a porção verde que demonstra a vitalidade parcial da folha […] Quando a flor é acometida imediatamente murcha, perde-se e por consequência não pode ter lugar a frutificação. Os cachos quando inválidos no seu estado rudimentar, então a moléstia toca o máximo da sua intensidade, e os bagos atrofiam-se, secam-se e morrem […]

Ficheiros

Colecção

Citação

s/autor, “Relatório da comissão para a moléstia das vinhas”. In O Fayalense, nº 289, pp. 289-290., 09-12-1857. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/71.

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