Correspondências
Dublin Core
Título
Correspondências
Criador
João Carvalhal da Silveira
Fonte
O Angrense, nº 674, pp. 2-3.
Data
28-02-1850
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Sr. Redator,
Em data de 16 do mês p. passado dirigi ao presidente da comissão central criada para extinguir o bicho – Coccus Hesperidum – um ofício em que julguei demonstrar que o meio de se conseguir a total extinção dele era arrancar as árvores acometidas por esse inseto devorador, e queima-las sem mais demora, e sem a mais pequena contemplação para com as árvores nem para com os donos delas, por isso que a experiência demonstrou ser essa a única medida salutar capaz de por cobro ao progresso rápido que costuma ter o tal bicho. Como porém, não se desse a mais pequena atenção ao que eu então disse, por isso que nem uma resposta tive ao meu oficio, e saiba agora que o pomar do sr. Manuel Gonçalves Fagundes teve ultimamente mais uma laranjeira acometida do bicho, e que por contemplação se não mandou logo arrancar e queimar, donde resultou passar a mais quatro árvores, venho por isso, como membro da comissão filial de S. Bento, declarar qual foi a minha opinião a respeito dos remédios capazes de extinguir o Coccus Hesperidium, e ao mesmo tempo, convidar a v. como redator do Angrense, a dizer alguma coisa sobre este assunto, se o achar conveniente, pois o que é certo que havendo contemplações pessoais em interesses tão gerais e de tanta magnitude, veremos comprometido altamente um dos principais ramos do nosso comércio.
O ofício a que a que aludo, abaixo vai transcrito, e se v. o quiser publicar no seu periódico obrigará sumamente. […]
Ilmº sr – com data de 14 do corrente recebi um ofício do presidente da câmara desta cidade, em que me participa ter eu sido membro duma comissão filial com o fim de tratar na freguesia de S. Bento, da extinção do Cocus Hesperidum, desgraçadamente introduzido nesta ilha, e ameaçando o mais florescente ramo do nosso comércio.
Enquanto esta dista comissão se não reúne, e principia na indagação do mal e seus remédios, no conhecimento das causas que trouxeram um tão formidável inimigo a este país, cujos interesses procurou traiçoeiramente assassinar quem logo conheceu o mal e o não denunciou ao público, deixando prolificar e propagar, eu vou dirigir a v. s., como presidente da comissão central para este mesmo fim criada, algumas linhas sobre tão importante assunto, […]
Os primeiros prédios que na ilha de S. Miguel foram atacados pelo Coccus Hesperiudum, ou Conchinila, foram a quinta o Barão de Fonte Bela, e a do morgado João Soares, à Conceição.
O terror foi geral, todos viram ameaçadas as suas fortunas e procuraram diferentes remédios para destruir, mas a este desejo de destruição andou ligada certas consideração pelas laranjeiras doentes, de maneira que me lugar de arrancarem completamente as árvores de espinho que havia neste prédios, apenas as serraram, caíram os troncos, lavaram-nos com sumo de tremoço, e com outros ingredientes, medidas estas somente paliativas, porque no fim de oito dias reapareceu com mais força nas mesmas árvores serradas, e daí passou a prolificar e a propagar-se com duplicada violência.
[…] Que logo que se conheça existir o bicho em qualquer pomar, arrancarem-se todas as árvores de espinho nele existentes e queimarem-se da maneira com este ilha se faz o carvão: porque apesar deste remédio parecer violento, no entanto identifica-se com a opinião geralmente seguida de que o bicho ataca as laranjeiras pelos seus poros, e que depois de neles desenvolvido é que passa á casca e folhas de árvore. Ora cortar a árvore, e queimar os seus ramos é inútil paliativo, porque lá fica no tronco o veneno, os poros infecionados, o gérmen mortífero que tem de espalhar-se com mais força e violência; e quanto à maneira de queimar, que indico, ela não aparecera também violência, se considerarmos que o fumo leva os ovos do bicho a certa altura, e que de lá o vento se apodera deles, e os conduz a outros sítios, e por isso para remediar este grande mal, eu achava que o fogo se devia lançar às árvores, inteiramente como querendo fazer carvão.
Isto são lembranças que sujeito a melhores inteligências e a mais sábio desenvolvimento, acompanho-as do axioma universal de que para doenças graves aplicam-se remédios heróicos, e que muito embora os não queiram os doentes, há meios de lhos fazer aceitar, porque assim lho pede a sua existência e conservação. […]
Em data de 16 do mês p. passado dirigi ao presidente da comissão central criada para extinguir o bicho – Coccus Hesperidum – um ofício em que julguei demonstrar que o meio de se conseguir a total extinção dele era arrancar as árvores acometidas por esse inseto devorador, e queima-las sem mais demora, e sem a mais pequena contemplação para com as árvores nem para com os donos delas, por isso que a experiência demonstrou ser essa a única medida salutar capaz de por cobro ao progresso rápido que costuma ter o tal bicho. Como porém, não se desse a mais pequena atenção ao que eu então disse, por isso que nem uma resposta tive ao meu oficio, e saiba agora que o pomar do sr. Manuel Gonçalves Fagundes teve ultimamente mais uma laranjeira acometida do bicho, e que por contemplação se não mandou logo arrancar e queimar, donde resultou passar a mais quatro árvores, venho por isso, como membro da comissão filial de S. Bento, declarar qual foi a minha opinião a respeito dos remédios capazes de extinguir o Coccus Hesperidium, e ao mesmo tempo, convidar a v. como redator do Angrense, a dizer alguma coisa sobre este assunto, se o achar conveniente, pois o que é certo que havendo contemplações pessoais em interesses tão gerais e de tanta magnitude, veremos comprometido altamente um dos principais ramos do nosso comércio.
O ofício a que a que aludo, abaixo vai transcrito, e se v. o quiser publicar no seu periódico obrigará sumamente. […]
Ilmº sr – com data de 14 do corrente recebi um ofício do presidente da câmara desta cidade, em que me participa ter eu sido membro duma comissão filial com o fim de tratar na freguesia de S. Bento, da extinção do Cocus Hesperidum, desgraçadamente introduzido nesta ilha, e ameaçando o mais florescente ramo do nosso comércio.
Enquanto esta dista comissão se não reúne, e principia na indagação do mal e seus remédios, no conhecimento das causas que trouxeram um tão formidável inimigo a este país, cujos interesses procurou traiçoeiramente assassinar quem logo conheceu o mal e o não denunciou ao público, deixando prolificar e propagar, eu vou dirigir a v. s., como presidente da comissão central para este mesmo fim criada, algumas linhas sobre tão importante assunto, […]
Os primeiros prédios que na ilha de S. Miguel foram atacados pelo Coccus Hesperiudum, ou Conchinila, foram a quinta o Barão de Fonte Bela, e a do morgado João Soares, à Conceição.
O terror foi geral, todos viram ameaçadas as suas fortunas e procuraram diferentes remédios para destruir, mas a este desejo de destruição andou ligada certas consideração pelas laranjeiras doentes, de maneira que me lugar de arrancarem completamente as árvores de espinho que havia neste prédios, apenas as serraram, caíram os troncos, lavaram-nos com sumo de tremoço, e com outros ingredientes, medidas estas somente paliativas, porque no fim de oito dias reapareceu com mais força nas mesmas árvores serradas, e daí passou a prolificar e a propagar-se com duplicada violência.
[…] Que logo que se conheça existir o bicho em qualquer pomar, arrancarem-se todas as árvores de espinho nele existentes e queimarem-se da maneira com este ilha se faz o carvão: porque apesar deste remédio parecer violento, no entanto identifica-se com a opinião geralmente seguida de que o bicho ataca as laranjeiras pelos seus poros, e que depois de neles desenvolvido é que passa á casca e folhas de árvore. Ora cortar a árvore, e queimar os seus ramos é inútil paliativo, porque lá fica no tronco o veneno, os poros infecionados, o gérmen mortífero que tem de espalhar-se com mais força e violência; e quanto à maneira de queimar, que indico, ela não aparecera também violência, se considerarmos que o fumo leva os ovos do bicho a certa altura, e que de lá o vento se apodera deles, e os conduz a outros sítios, e por isso para remediar este grande mal, eu achava que o fogo se devia lançar às árvores, inteiramente como querendo fazer carvão.
Isto são lembranças que sujeito a melhores inteligências e a mais sábio desenvolvimento, acompanho-as do axioma universal de que para doenças graves aplicam-se remédios heróicos, e que muito embora os não queiram os doentes, há meios de lhos fazer aceitar, porque assim lho pede a sua existência e conservação. […]
Ficheiros
Colecção
Citação
João Carvalhal da Silveira, “Correspondências”. In O Angrense, nº 674, pp. 2-3., 28-02-1850. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 28 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/72.