SECÇÃO AGRÍCOLA

SECÇÃO AGRÍCOLA

António Pereira Alves

Damião de Goes, Ano 1, nº 3, pp. 1-2.

17-01-1886

Leonardo Aboim Pires

Por carta do Ilmº. Sr. João Duarte Carlos, do Bairro, fui informado de haver ali um proprietário tão descuidoso dos seus interesses, que estava metendo bacelo tirado de uma vinha filoxerada da Merceana.
A comissão de vigilância nesta freguesia participou o facto imediatamente ao Exmº. Presidente da Câmara, de quem está aguardando as urgentes medidas que o caso requer.
Devemos nós descansar nesta participação?
Ainda que o bacelo seja tratado e arrancado, quando o for, garante-nos alguém que o tratamento, por mais prefeito que seja, consiga livrar-nos de mais um foco?
E será o único proprietário que, por ignorância ou descrença, facilite o estabelecimento de novos focos pelo transporte de bacelos filoxerados para os diferentes pontos do concelho? […]
Pode alguém supor que os proprietários de vinhas filoxeradas se empenhem em fazer partilhar o mal que os aflige, de forma a ser igualmente sentido por todos os viticultores do concelho? Não.
Mas também quem acreditaria se fosse buscar o bacelo a uma vinha filoxerada para o plantar em sítio afastado 8 a 10 kilómetros do foco conhecido e em freguesia até hoje reputada indemne?
Ninguém. E contudo o caso é indubitável.
Não se diga, que, sendo tantos os modos de se espalhar a invasão, um a mais é de pequena importância.
É do nosso interesse, é nosso dever retardar quanto possível o flagelo que temos indemne.
A quem deve ser tomada a responsabilidade deste facto e semelhantes, que, sendo resultado da ignorância de alguns põe em risco a fortuna de todos?
A resposta é bem simples.
A quem forneceu o bacelo, sabendo que ele estava filoxerado, e a quem o transportou e empregou nas mesmas condições.
Há lei, como creio, que imponha esta responsabilidade?
Se há, que se aplique com o rigor e a urgência que o caso pede. […]