A ACTUALIDADE
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Título
A ACTUALIDADE
Criador
O. M.
Fonte
Jornal da Louzan, n.º 177, pág. 1, col. 1,2,3
Data
22-09-1888
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
Há três ou quatro anos, quando se começava a falar em crise agrícola e nas dificuldades da lavoura de cereais, a resposta era uma e única: plantem vinha! Este concelho era seguido, porque nem os que o davam queriam saber de consequência longínquas e além disso teóricas, o que é grave defeito, nem os que seguiam olhavam para além de amanhã. Ou viam mais longe que a ponta do nariz. Não distavam porém dois séculos que neste mesmo Portugal se tenham visto as consequências de reduzir a lavoura de um país a uma cultura industrial quase exclusiva. As consequências disso vieram desta vez, mais cedo do se deveria supor, dar razão aos teóricos. A um tempo a abundância dos produtos envelheceu os preços, as circunstâncias dos mercados comerciais reduziram a procura e a filoxera assolou os vinhedos.
Depois de destruída a região do Douro, a da Bairrada e a de Torres caminham a passos largos no mesmo sentido. Quem se atreve hoje a dar o antigo conselho: plantem vinha? Nestes últimos, anos, a exportação de vinho e a importação de trigo constituíam, pode dizer-se, os dois polos da economia agrícola nacional. Pagava-se em vinho o custo do pão. O abandono da lavra dos cereais não era sensível pois se obtinha lucro equivalente ou superior na da vinha. Podiam gemer os pobres sem capital para plantações, mas em soma total a riqueza do país não diminuía. Em 1887, porém, mudaram as coisas, e como o deficit denunciou-se e generalizou-se uma crise que é fácil de ver se agravará em razão directa da diminuição do rendimento dos vinhos. Economicamente impossível o alargamento da cultura dos cereais. Falta o produto do vinho para pagar o custo do pão. É por isso que urgentemente se impõe a necessidade de medidas, embora excepcionais à sombra das quais seja possível semear de trigo todas essas encostas onde as vinhas requeimadas atestam a passagem fatal da filoxera. Comprar pão, sem vinho para o pagar, é materialmente impossível. E é essa a situação medonha a que havemos de chegar, se em três anos, em quatro anos., antes que a devastação dos vinhedos seja um triste facto consumado, não tivermos disposto as coisas de modo que seja possível lavrarmos o pão para comermos. Oxalá esta opinião fosse apenas o resultado fantástico de uma, melancolia de espírito!
Depois de destruída a região do Douro, a da Bairrada e a de Torres caminham a passos largos no mesmo sentido. Quem se atreve hoje a dar o antigo conselho: plantem vinha? Nestes últimos, anos, a exportação de vinho e a importação de trigo constituíam, pode dizer-se, os dois polos da economia agrícola nacional. Pagava-se em vinho o custo do pão. O abandono da lavra dos cereais não era sensível pois se obtinha lucro equivalente ou superior na da vinha. Podiam gemer os pobres sem capital para plantações, mas em soma total a riqueza do país não diminuía. Em 1887, porém, mudaram as coisas, e como o deficit denunciou-se e generalizou-se uma crise que é fácil de ver se agravará em razão directa da diminuição do rendimento dos vinhos. Economicamente impossível o alargamento da cultura dos cereais. Falta o produto do vinho para pagar o custo do pão. É por isso que urgentemente se impõe a necessidade de medidas, embora excepcionais à sombra das quais seja possível semear de trigo todas essas encostas onde as vinhas requeimadas atestam a passagem fatal da filoxera. Comprar pão, sem vinho para o pagar, é materialmente impossível. E é essa a situação medonha a que havemos de chegar, se em três anos, em quatro anos., antes que a devastação dos vinhedos seja um triste facto consumado, não tivermos disposto as coisas de modo que seja possível lavrarmos o pão para comermos. Oxalá esta opinião fosse apenas o resultado fantástico de uma, melancolia de espírito!
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Citação
O. M., “A ACTUALIDADE”. In Jornal da Louzan, n.º 177, pág. 1, col. 1,2,3, 22-09-1888. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/95.