Pragas nos Periódicos

ASSUNTOS AGRÍCOLAS

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Título

ASSUNTOS AGRÍCOLAS

Criador

Artur de Carvalho e Oliveira

Fonte

Damião de Goes, 17º Ano, nº 864, p. 2.

Data

20-07-1902

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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Do nosso amigo e distinto viticultor sr. Artur de Carvalho e Oliveira, recebemos a seguinte carta:

«Amigo e sr. redator do Damião de Goes – no último número da sua bem elaborada folha, sob a epígrafe «Assuntos agrícolas», transcreve v… do periódico de Valencia, El Productor Español, um artigo que cita um novo método para combater ao mesmo tempo o míldio e o oídio, proposto pelo professor Tamaro.
Diz este professor (?) que o seu método consiste, principalmente, em juntar enxofre ao caldo bordalês. Ora o enxofre, segundo a química que me ensinaram, não se dissolve senão no sulfureto de carbónio; portanto o professor Tamaro decerto que não se quer referi à «dissolução», que se não pode fazer no caldo bordalês; quererá talvez referir-se à «adição» ou «mistura», mas esta, conforme a experiência, a que acaba de se proceder à farmácia desta localidade, nunca é perfeita, completa ou homogénea; de modo que, desde que peca por qualquer dos dois citados defeitos, da «não dissolução» e da «imperfeitíssima mistura» o processo indicado, não se torna ele útil, como de resto, tanto seria para despejar, dada a economia que da sua aplicação resultaria.
Mas não foi isso que me levou a importunar v…, pedindo-lhe espaço no seu Damião para esta carta, foi também que há mais duas passagens na descrição do tal novo processo Tamaro, que me deixaram a impressão de que este cavalheiro não será tal professor, ou se o é, não é decerto nestes assuntos muito versado.
Vamos a ver:
Primeiro diz ele que ficará neutro o caldo, feito com 1 kilo de sulfato de cobre e 1 kilo de cal. Pois não fica tal; com esta quantidade de cal o caldo ficará básico e não simplesmente neutro, para o que bastam 500 gramas de cal.
Depois diz que, depois de ligado o leite de cal à dissolução de sulfato de cobre se reconhece se o cal do está ou não neutro pela cor superficial do liquido, que, para assegurar a neutralidade, deve, em repouso, ser incolor e, no caso contrário, verdoso.
Verdoso será ele! Então o sulfato de cobre, que é da cor azul dos céus …. Sem nuvens …. Poderá alguma vez corar de verde a água? O sulfato de ferro, que é verde, esse sum; mas como é de cobre que se fala, vê-se que o nosso professor confunde alhos com bugalhos!
Mas, o que tem supina graça, é o nosso homem ainda recear que o caldo fique acido depois de lhe deitar um peso de cal igual ao de sulfato, quando, para assegurar a neutralidade, basta empregar metade deste peso em cal.
Um aforismo português muito antigo e muito conhecido diz: «De Espanha nem bom vento, nem bom casamento» e eu acrescentarei: «nem inventores de caldos mistos…»
Sendo preciso estar sempre de atalaia com tudo quanto, sobre inovações, não provenha de boas fontes, creio ter prestado um pequeno serviço aos leitores do Damião, criticando a tal fórmula do professor Tamaro e pondo-os de sobreaviso com todas as novidades, que às vezes aparecem nos jornais, de proveniências duvidosas.
Casa de v…., Abrigada, 17 de Julho de 1902

Artur de Carvalho e Oliveira.

[…]

Ficheiros

Colecção

Citação

Artur de Carvalho e Oliveira, “ASSUNTOS AGRÍCOLAS”. In Damião de Goes, 17º Ano, nº 864, p. 2., 20-07-1902. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1305.